Tudo! Nada!

2.6.07

O texto a serguir nasceu de um sonho. Não desses sonhos de principezinhos encantados, nem de princesas que viram plebéias . Mas sim de um sonho que eu tive a noite passada. Sonhei que eu estava preocupado com Angra 3, uma usina nuclear. No fundo, eu queria me preocupar com usinas nucleares, e com a invasão da reitoria da USP. Queria sentir emoção por quem perdeu o emprego na RCTV, na Venezuela de um Chavez paspalhão...
Pensei que eu não fosse mais escrever nenhum texto. Eu tento levar como lema o seguinte: ser fiel à minha própria vontade. Isso me define. Me cerca e me deixa expandir, na medida exata. Pode ser que eu não consiga, ou que consiga ser parcialmente. Mas esse é o caminho; e o caminho é conhecido. O que eu quero dizer é: escrevo quando e como quero; não escrevo quando e como não quero.
O querer é inexplicável. Mas existe.

Pensei que não fosse escrever mais nenhum texto. Mas acabo descobrindo que os textos estão escritos, antes que eu os passe para o papel. Os textos são escritos simultaneamente, incessantemente, em todas as partes do mundo. Enquanto você lê esse meu texto, está escrevendo outro em sua mente. Mesmo que você nunca escreveu a emoção (ou a falta dela) ao ler meu texto, você escreveu um texto... em sua mente. Os textos não são escritos pelos escritores; são apenas traduzidos por ele. Quem os escreve é o desconhecido. Sei que tem muito babaca por aí que não acredita nisso. Tem gente que acredita em todas as mentiras professadas pela ignorância do mundo. É difícil a gente acreditar na verdade nua e crua. Na maioria das vezes, a gente acredita é no que foi inventado e não tem fundamento. A gente acredita nas aparências. Isso é tudo verdade. Não é papo de mulher mal amada.

Eu achava que as pessoas que agiam querendo ser diferentes é que eram de fato diferentes. Hoje, acredito quando dizem que todo mundo é só "aparência"; só não acredito quando agem fingindo que não, que não é tudo aparência. A maioria conhece teoricamente os caminhos certos, mas trilha pelos errados. 99%. Agora, acredito na simplicidade de tudo o que é tido como "certo". De fato, conhecemos, teoricamente, os valores reais. Praticamente, não conhecemos. É assim mesmo. Aquelas canções do brega José Augusto, do Fábio Jr. , do Maurício Mattar, estão certas.

Onde está escrito que para escrever um texto, ele tem de ser grafado? Eu escrevi um texto em minha mente e não contei para ninguém.

Fico feliz por não ter sido levado por nenhuma onda da vida. Eu continuo assistindo a tudo sentado numa pedra, sozinho. Eu não virei doutor, nem me casei com a mulher mais bonita; não saí candidato a governador, não comprei um apartamento. Não comi 50 mulheres, nem me importo com o caso do presidente do Senado. Eu não recebi a medalha do comendador da Puta que o pariu, nem escalei o Everest. Não uso Nike Shox, nem me fantasio de Matrix pra sair que nem um louco na rua.

Ninguém sabe, nem nunca saberá o que se passa em minha mente. Ninguém vai acreditar, por mais sincero que eu seja, quando contar. Também, não me importa contar. Não consigo levar tudo tão a sério quanto todo mundo leva. Não consigo acreditar 100% em nada, nem em mim mesmo; mas não consigo duvidar 100% em nada, nem em mim mesmo. Não consigo ficar puto de verdade, porque a verdade não existe pra mim. Acaba sendo tudo um teatro. A única verdade é um espetáculo. Eu to sentado numa cadeira, consciente que é tudo teatro.

Acho que vou morrer procurando motivos para acreditar que alguma coisa pode ser séria. Falo sério. Não acredito que as coisas significam tudo o que elas parecem. Eu percebo que o que falo, às vezes soa, e é, incompleto. Na verdade, eu pressuponho que saibam das minhas intenções; e percebo que as pessoas têm necessidade de saber do óbvio. E eu, por inabilidade qualquer que seja, não consigo dizer o óbvio. E não me importo em não dizer o óbvio. Que se exploda o óbvio, lá em Angra 3. O meu medo, a minha impotência, a minha sabedoria, a minha inteligência. A minha esperteza e a minha bobeira... no fundo, é tudo a mesma coisa, como uma receita de bolo batendo na batedeira pra ir ao forno depois. O "eu" de verdade, está do lado de fora da batedeira. Eu to olhando isso tudo, inerte, inabalado, só avaliando os dados dessa experiência.

Há até um tempo atrás, eu pensava que o grande desafio da vida, seria eu descobrir e revelar à humanidade, algo que eu tenha descoberto de novo. Algo como o cara que inventou a televisão, ou o automóvel, ou o avião... Se eu tivesse a sorte de ser um deles, aí sim, eu tava feito! Mas não! Não é bem assim. Nada disso! Seria indiferente ser ou não um deles. Talvez um professor de matemática já saiba muito mais que o inventor do avião. Talvez uma dançarina do Sayonara enxergue mais longe que um astronauta. Ou talvez um astronauta enxergue mais longe. Talvez.

Acredito que pode ser o destino o responsável por fazer um homem ter idéias mirabolantes. Pode ser alguma força do "além"; ou pode ser simples "acaso".

Mas a grande descoberta que fiz nos últimos tempos, é que o importante da vida, é descobrir o que é "novo para mim", mesmo que a minha "novidade" seja a coisa "mais velha" pra toda a humanidade.

Quando eu nasci, a roda já existia para o mundo. Mas para mim, a roda só existiu a partir do momento em que tomei conhecimento.

O outro lado da moeda, é que o mundo me desconhece. Eu sou a própria novidade, à medida que me descubro. E o "eu" que conquistou uma "nova descoberta individual" é um novo "eu". Pouco importa a natureza dessa descoberta pro resto do mundo.

Assim, um neném que pronuncia a sua primeira palavra, acaba modificando o mundo, sim.

Só que antes, eu acreditava que a pessoa tinha que modificar o mundo para ser expressiva. Hoje, a idéia tomou sentido contrário na minha mente. A pessoa que modifica a si mesma, provoca, de forma inexorável, mudança no mundo; porque ela é parte do mundo.

Apesar de tudo o que foi exposto aqui, continuo com um dos principais dilemas que me perseguem: na maioria do tempo, não vejo razão para nada. Não vejo razões para conversar, nem manter conversas. Não vejo razões para invenções, nem beijos na boca. Não vejo intenção interessante nas políticas de manutenção da vida humana. Isso não me faz um idiota com tendências suicidas, pois não vejo razão nos que põem termo à própria vida. Um churrasco, uma cerveja, uma mulher... É preciso acreditar nisso tudo.

Eu imagino o que o "apertar de um botão" em Angra 3 poderia causar. Pra ser sincero, não sei se pararam em Angra 2 ou se a 3 já existe... Me ocorreu agora questionar a razão de as pessoas apostarem no jogo do bicho. Muitos matam, morrem, são presos, se exaltam e etc., pelo jogo do bicho. Existe coisa mais surreal do acreditar nisso?

Eu penso nos pijamas e nos ternos e gravatas. Sei que ninguém acredita de forma tão veemente quanto eu na força simbólica dos pijamas e dos ternos e gravatas. Mas é chocante como todo mundo engole esses símbolos tão facilmente, sem questionar, sem elogiar, nem condenar. A dureza, a rigidez do pensamento dessas 2 vestes, que foram usadas como exemplo nesse texto, são de me chamar a atenção.

Estou tranquilo, apesar do mar de pensamentos que me toma a mente. Encontrei uma ciência pra me divertir. Tudo que preciso pra isso é a minha mente e meu tempo. Que pretensão dizer "meu tempo"? O tempo não tem dono. É tudo só um passatempo. De chocolate. Um biscoito.



9.6.03

ANOS DOURADOS

Nessa noite eu tive muita inspiração. Eu conversei bastante sobre textos, conversei “bastante” sobre a vida, com o Ronaldo, o Giovanni, o Alan, o Cristiano, apesar de que, em se falando de vida, não há nunca um “bastante” para se conversar sobre. Eu me questionei; questionei meu potencial para escrever, me pus pra baixo, me puseram pra cima, me puseram pra baixo, também.
A gente estava num bar. Um bar vazio, desses típicos de uma rua deserta numa quinta-feira à noite, sem música ao vivo, e sem uma viva alma... A não ser que Wanderley estivesse por ali! Mas eu não estava sensitivo o bastante para saber. Fiquei imaginando e imaginando que aquele espaço poderia ser mesmo utilizado por casaizinhos de namorados em suas noites prodigiosas, antecedendo o nada para fazer que viria depois, que é o que sempre ocorre com todos os casaizinhos de namorados pelo mundo.
Conversa vai e conversa vem, Ronaldo, Giovanni e eu começamos a confabular sobre nossos textos. Os textos de um são mais isso, os textos do outro são mais aquilo... Eu logo pensei numa canção que diz que “a medida de amar, é amar sem medida”. A medida de escrever, é escrever sem medida, digo eu. E é. Nas entrelinhas, goles de cerveja bem regados, acompanhados muitas vezes de batatas fritas sequinhas, e, no meu caso, de torradas secas, já que eu não gosto daquele molho feio que estava lá na mesa. O importante é expressar os sentimentos, não importa o texto.
Acho que eu ando, andei ou andava muito preocupado com o formato que meus textos assumiriam, quando na verdade, meu maior objetivo não é esse. Eu quero escrever bem escrito, tenho vontade disso, de verdade. Quero mostrar a idéia, e não a moldura dela. Subi as escadas aqui de casa pensando nisso! Tenho que escrever com sentimento, borrando o papel com o sangue do meu coração.
Pois bem; voltemos ao bar. Uma cerveja lá, outra cá, e o Giovanni some. Some não, desaparece! E cervejas dão de presente para a gente, uma vontade irresistível de ir ao banheiro. Foi numa dessas minhas “idas” ao banheiro, que eu me deparo com o Giovanni numa mesa, com as únicas outras vivas almas que estavam no mesmo bar que a gente.
Um “Sean Connery” latino ali estava. Atendia pelo nome de Gilberto. Mas aqui no Brasil, ele dizia ser pintor; aliás, o sujeito se identifica com o que há de “Miró” na vida. O outro, um “Carlinhos Brown” juizforano, que inclusive toca percussão, discutiu o sentido da vida com a gente. (Eu acho que a vida tem mão e contramão)! Por último... (a gente sempre deixa o que é mais gostoso por último)! Uma mulher linda, a Ana. E o Giovanni, que logo hoje tinha me falado que eu “tinha que ser mais romântico”, jogou o sapo n’água! Eu acho que ele é romântico assim, por ter ouvido muito falar desse tal romantismo nos cds do Frejat. Eu acho esse Frejat, um Fábio Jr. da atualidade, mas... A Ana era linda.
E ela contou que quando tinha uns 26 anos... Quantos anos ela tem hoje? Não fui tão sincero para perguntar! Ela que estava ali, na mesa que o Giovanni invadiu, quietinha com o “Sean Connery”, fora indiretamente abordada por um outro intrometido, o João Paulo. Ela era linda para mim, só não era mais linda que sua própria voz. E ela (a Ana), foi a razão da minha curiosidade para parar naquela mesa. Eu perguntei se ela havia estudado para ganhar aquilo (a voz), ou se já nascera assim. Toninho, o “Carlinhos Brown”, disse que “já veio assim de fábrica”. E ela tinha uma voz de veludo, uma voz que massageia o ego dos seres mais feridos, dos que precisam mais de vozes, e menos de barulhos. Aquilo me fez sentir mais homem, me fez perceber que eu realmente existo ainda... Isso era uma das questões que a gente abordou ali na mesa, com pessoas desconhecidas: a existência.
O meu guru cósmico, Giovanni, sugeriu que em todos os bares do mundo, as pessoas pudessem se juntar assim, igual nós, invadindo as mesas alheias. Ronaldo logo apareceu e se atracou também por ali. A essas alturas, eu já me casaria com a Ana, de papel passado e tudo, porque ela disse que adorava sair com o povo dela, pra discutir a tal da filosofia. Eu, frágil, falava como um repórter. Sempre na necessidade de me expor, ficar na “carne viva” frente à sociedade que me vangloria, e que me condena, morde e sopra. Eu fiquei mais feliz, eu quis sentir o perfume “noir” no ar. De uma forma ou de outra, aquela Ana ali, naquele momento, me fez crer que ainda existem mulheres bacanas. Existem mulheres que são mais “gente” do que apenas “sexo oposto”. Ela era real? Até ali, sim. Ela era uma forma bela, desmanchando-se em meus pensamentos inúmeros que flechavam com emoção toda a minha racionalidade. Ela colocou “em xeque” meus conceitos, os quais eu acreditava serem verdadeiros até então, simplesmente por estar ali, na minha frente, perfeita.
Uma frase antológica, (e olha que eu não sou muito de frases feitas!), foi a do Toninho: “a gente tem que comer um bife, pensando mais que aquilo é carne, ao invés de proteína”! Aquilo me valeu o papo, me valeu a noite.
Os estranhos me foram valiosos. A mulher fez meus olhos dançarem um balé bonito, só por causa das curvas dela. Mas fez meus pensamentos fazerem curvas, só por causa dos olhos dela. Ah, sim! Eles brilhavam, era isso que eu queria dizer. Eu estava com mais medo de dizer o que eu pensei, mas agora tudo já se foi, eu sei. Sei que ela se foi, com o tempo, e só o tempo dirá se ela volta, se ela fica, ou se ela... sei lá! Esse título “Anos dourados”, é em homenagem a ela, que perguntou porque eu iria escrever um texto chamado “Anos dourados”: “é sobre os seus anos dourados?” Eu disse que o passado é um produto já pronto, e por isso ele é bonito, ele já vem embalado, é industrializado. Eu percebi no sorriso dela, que ela foi com a minha cara, e que, se não fosse o “Sean Connery”, eu estaria “à caça de meu Outubro Vermelho”, no mar de amor que ela parece guardar em si.
Estou cheio de minhas discussões sobre o futuro. Eu até acredito no amor, essa noite. Uma mulher daquelas, pintada pela minha mente como a mais bela das obras de “Miró”, seria capaz de incorporar o amor. E eu, que nem conheço “Miró”, nem sei como se escreve “Miró”! Se fosse Picasso, eu não gostaria. Eu seria o bife dela, e não a proteína. Isso eu espero do mundo. Amanhã porém, vou acordar. Vou voltar a ser real, como sou quase todo dia. É aí que mora o perigo, no penhasco que leva à realidade. No meio do caminho, eu dou uma parada na surrealidade. Onde vou parar? São anos dourados, horas douradas, minutos dourados!

DESENCONTRO MARCADO:

Eu sou um cara sempre atrasado. Meus amigos são os caras mais bonzinhos do mundo, por me tolerarem com os meus atrasos “homéricos”, vida afora. A gente sempre se encontra depois do tempo combinado. Não sei como eu me viro com as mulheres, porque no começo, eu sempre chego na hora. É bem verdade que eu me desdobro para isso, mesmo pensando que essa história de “chegar na hora” é algo sem razão de ser, digamos assim (ainda mais quando se trata de lazer). Mas quando o tempo vai passando, a intimidade chega, e aí eu tomo os meus banhos tranqüilo, passando de longe o limite da meia hora, fato que é veementemente condenado pelos camaradas que trabalham na Cemig. Chego então atrasado nos encontros, com amigos, com meninas, com o papa, com os papagaios, com os cachorros, com as árvores, com a chuva, com o cheiro da noite, e com mais quem quiser aparecer na história. Por favor, sinta-se à vontade para escrever seu nome aqui, porque, se eu marcasse um encontro com você, chegaria certamente com mais de meia hora de atraso. (Escreva seu nome no espaço em branco a seguir!)______________________________________________________________________________________________ Meu pai também reclama dos banhos demorados, mas eu... ah, eu! Sempre EU! Eu imagino que a vida é algo muito curto para você se preocupar com os banhos demorados. É um dinheiro bem gasto no fim do mês, afinal, a gente vê o retorno. Eu por exemplo, sou bem cheiroso. Se você nunca percebeu, chegue perto de mim! Além do mais, é no banho que eu canto, penso, medito, e, além do mais, tenho inspiração para escrever minhas marmotas preciosas.
Só que esses banhos já me custaram vários desencontros. Já perdi trens, viagens, festas; já perdi coisas boas, e coisas boas que viraram coisas más (aí eu tive sorte, muita sorte). Perdi o último capítulo da novela das oito, imaginem! Como os meus banhos me atrasam e me fazem desencontrar, há vários outros tipos de desencontros na vida.
Há desencontros de idéias, desencontros de mão na direção das vias onde trafegam os carros. Há desecontros no amor, na paixão, há desecontros até na solidão, quando não conseguimos lidar com os famosos “consigo mesmos”, que são cada indivíduo perambulante do planeta. Existem dias em que eu me desencontro de mim mesmo, e fico me procurando, nem que seja para “trocar uma idéia” comigo. Há desencontros insuportáveis, como aqueles os quais estávamos dispostos a ir para uma festa, e tudo acaba em ruínas devido a um desencontro. Há o desencontro do cinema, que é quando um dos expectadores chega atrasado, ou o ônibus bate, ou o carro fura o pneu, a caminho do local. Os desencontros de idéias, quando ele prefere o azul, e ela prefere o vermelho, quando cada um jura fundamentar sua opinião. Na verdade, não há fundamentos para nada no mundo, há apenas desculpas mais complicadas que as dos outros. “A vida é a arte do desencontro”, - acho que isso tem a ver com o Drummond; que Deus o tenha em um bom lugar!
Os encontros, na vida, são a fatalidade oriunda dos desencontros. A regra mesmo, é se desencontrar. O encontro, é o desencontro dos desencontrados. Encontrar uma mulher bonita na banca de batatas do Bretas Supermercados, seria um bom desencontro. Seria também muito mais romântico do que encontrar essa mesma mulher no “Privilège”, ou no “Cultural”, porque nesses lugares se espera “encontrar” a tal mulher bonita. Isso vale para a vida, e, abstraindo, vale para os demais ramos da imaginação onde nossa mente consegue chegar. Vale para o nicho das idéias, dos sentimentos, das regras do tráfego louco das grandes pequenas cidades que não nos levam a nada nem a lugar algum; vale para a insensatez absoluta das nossas vidas vazias e sem sentido, para a poesia louca de um normal inconstante, como eu. Amanhã, tenho um desencontro marcado com a escola. A escola, de manhã, todo mundo lá! Desencontro marcado, hein?
É engraçado perceber que minhas atitudes são desencontradas dos meus pensamentos. Minhas idéias são bem melhores do que meus atos. Isso é um desencontro entre o corpo e a alma. A interpretação semântica do mundo também é assim. Interpretamos, sem saber o quê! Não existe o porquê. Raul Seixas disse isso, mas eu até hoje não entendi. Vira e mexe eu tento decifrar. Mas desconfio que ele quis dizer que para nada existe fundamento; ou ele quis “desdizer tudo que ele disse antes”...
Os desencontros podem ser os próprios encontros, basta analisarmos o mesmo fato por ângulos diferentes. O carro que se desencontra da pista, na verdade, encontrou o muro!!!
Estou chegando a questões tão filosóficas, que um dia vou mergulhar no nada absoluto, no zero grau da escala Kelvin, ou vou mergulhar no tudo, a Torre de Babel da densidade terrena que é encoberta pelas neblinas das serras do Brasil. Vou me encontrar com outros valores, vou conhecer cidadãos que não são atores, serei a tormenta da mentira e o guardião da verdade. Um dia, vamos nos encontrar, é só não marcar! Temos um “desencontro marcado”, hein? Não se esqueça!

3.6.03

O LUAR:

Eu aprecio o luar, a noite. Acho que seja possível que eu já tenha tido algum caso secreto com ele, que na minha concepção, é bem feminino. Há gente que canta o luar, eu não entendo como. Provavelmente, é algo como arte moderna: não é para entender, é para sentir. Mas até que cantam muito bem...
O luar é o que há de mais ensolarado na noite, que é bela. A lua é o sol das madrugadas. Isso é muito mais bonito do que qualquer manhã de verão, com aquele sol absoluto e nada democrático. A luz da lua é mais discreta, mais serena. Parece que ela tem sabedoria para não incomodar, mas sim agradar a gente. A sinfonia silenciosa da noite transmite mais conhecimento, paz e segurança do que o “astro-rei”, que é impiedoso, e não poupa aqueles que gostam de dormir um pouco mais nas manhãs de domingo. Também pudera, nós é que somos preguiçosos. Somos? Eu sou, e daí? É bom dormir até tarde, acordar na hora que os outros chamam de “errada”! Se o sol descobrir um dia o quanto é bom acordar tarde, ele vai virar um preguiçoso “de carteirinha”, também. O sol ainda não atingiu esse ponto da evolução. Eu digo que a lua é serena, e digo mais: esperta, porque ela sabe disso tudo. Prefere ser pequenina no céu, mas imensa na repercussão que traz sobre o mundo inteiro. Isso é solene. A lua é sábia.
É um deleite imensurável olhar para o universo e saber que somos parte dele. Não, nada de pronomes possessivos; “isso é meu, aquilo é seu”. Somos muito mais que isso, pois somos parte integrante do cosmos. Pode ser que o fim do universo seja meu dedo indicador. Se eu partir do ponto de vista egoístico de que eu sou o começo do universo, posso chegar ao fim dele, depois de dar uma volta, que culminará em mim mesmo. Se você quiser, você também pode se imaginar como o começo do universo. Você é o começo do universo; tudo se inicia em você, e então ocorrem os desdobramentos que dão origem ao cosmos. Tudo então se desenrola. Esse “desenrolar”, é o que conhecemos por realidade. Essa realidade, por sua vez, terminará em você.
Eu queria lembrar também que é ótimo olhar para o céu. Só não aprecio muito olhar para o céu ao meio-dia (hora de Brasília), já que é nesse instante que o sol está logo acima de mim. Gosto dos entardeceres diários, gosto das 17:47h, que são dignas de um texto. O entardecer é o prenúncio da noite, que revela a beleza do luar.
No fundo, esse é um texto bem científico, creio eu, que reflete um pensamento poético. Não houve nada de consultas, nada de doutrina, bibliografia, dogmas, dados recolhidos pelas pesquisas do Ibope, nem similares, para que essa peça fosse produzida. O que se mostra aqui é vida, experiência prática, sentimentos, arte, a explicação do inexplicável. A despreocupação com o mundo técnico e dogmático nos leva a conhecer outros mundos. Não podemos viver num mundo só. Não podemos viver sós no mundo. Temos que nos desprender do mundo bitolado. Temos que dois mais dois é igual a quatro, mas temos que discordar. A lua não se prende a nada, ela é apenas sugestionada pela gravidade. Ela influencia as marés nos oceanos mais profundos, e serve para muitas outras coisas aqui no planeta. A lua é a alma do planeta.
Deixo aqui, minha homenagem ao luar. À lua não, porque a lua é concreta demais para ser homenageada. Eu ficaria sem graça de fazer uma homenagem à lua. Eu e minhas redundâncias, meus pleonasmos que nem sei o que são, minhas figuras desfiguradas de linguagem, minha bagagem esquecida no saguão. Tudo por eu prestar atenção na lua, um louco perdido na rua.

SEM ASSUNTO:

Há certos assuntos que não se encaixam em nenhum tipo de assunto. É o que acontece, por exemplo, quando alguém vai ao teatro e volta para casa discutindo sobre a origem do material do qual é feita a cortina, ao invés de se preocupar com a essência do espetáculo. Uns, provavelmente dirão que um indivíduo que age assim é um chato. Outros o chamarão louco. Não satisfeitos, alguns acreditarão se tratar de um gênio.
Esse texto é sobre isso: assuntos que não são assuntos. Assim acontece quando alguém interrompe a reunião para pedir um copo d’água. Ocorre também nas escolas, quando o professor de história interpreta, inflamado, as frases de efeito ditas por Dom Pedro II em suas proezas sem fim e um aluno lhe interrompe:
“—Posso ir ao banheiro, professor?”
Dom Pedro, a essas alturas, já montou em seu cavalo, e saiu galopando império afora, em busca de um outro pouso, um lugar mais aconchegante, receptivo. Todo o esforço daquele humilde professor fora em vão.
Por quê não fazem a doutrina dos “adoutrinados”? (Ou seja, aqueles que não têm doutrina)! Existem pessoas que vão à aula para ver as outras pessoas. Existem pessoas que vão a um evento simplesmente por ir.
Essas funções são as que fogem do fim específico de um certo agente. Eu estudei isso no direito. Um juiz tem funções fora de seu objetivo de julgar. São funções meramente deliberativas, que servem para “botar ordem na casa”. Exemplo disso, é regulamentar regras de um bom funcionamento de uma secretaria, bem como suas formas de agir diante de determinadas situações. Essas funções fazem o que é funcional funcionar. Quanta redundância. No mundo extra-jurídico, também acontece assim.
Para andarmos de bicicleta, precisamos ter pneus cheios. Mas não é apenas o fato de se ter pneus cheios que fará a bicicleta andar, como mágica. Agora acho que cheguei ao ponto que eu queria: para escrever textos, precisamos ter inspiração, criatividade. Não basta termos os instrumentos necessários à escrita, como o computador, caneta, etc. e sermos alfabetizados. O que eu escreveria se apenas soubesse e pudesse escrever? Eu tenho que querer escrever! E isso faz “brotar” um estado de espírito propício a isso, se a vontade for verdadeira. Tudo na vida será assim. Tudo o que quisermos de verdade, nos será possível.
Ter vontade é o primeiro passo para se concretizar um sonho. Daí surge um trabalho, se a pretensão é sincera. Tudo o que é real se abriga no inconsciente. Não sei se o inconsciente é uma fábrica de ilusões, mas ele é, certamente, um combustível às realizações aparentemente mais difíceis da vida, e torna muitas idéias como fatos concretos nas histórias das pessoas.
Um texto, um estado de espírito, uma conquista material, se forem voluntários, sempre serão “filhos” de idéias que os precederam. As transformações do mundo, a reviravoltas diversas são as “descobertas de novas rodas” a cada dia em que vivemos. Todo dia alguém descobre ou inventa uma nova roda. Ela pode não ser redonda, como a tradicional, conhecida e consagrada por todos nós, mas quem sabe, num futuro, próximo ou mesmo distante, terá utilidade ainda desconhecida por nós.
Não quero discutir o grau de importância das funções “não-principais” das coisas do mundo. Ultimamente nem tenho acreditado muito em medidas, isso é difícil para mim. Apenas quero mostrar para todos, e mostrar a mim mesmo, que as coisas são muito maiores do que parecem ser. Quem sabe a dimensão dos sonhos? Quem sabe as proporções dos pensamentos? Quem me responde essas perguntas? Alguém? Não sei. Às vezes a cortina era mais importante que a própria peça, naquele momento, e eu não soubesse. Talvez ir ao banheiro fosse mais didático naquela hora, do que saber sobre o Dom Pedro. Ou talvez, não! Talvez não! Talvez fosse só um acontecimento para que quem observasse questionasse, ou enlouquecesse mesmo, pensando sobre aquilo. Para que pensar tanto? Não seria muito mais fácil ser um marionete dos deuses? Eu não conseguiria, ou às vezes sou. Vou fazer uma pausa. Profunda. Beber uma “aguazinha”...

4.5.03


Todos os amores do ocidente:

Não vejo a hora de julho chegar.
Eu sou do hemisfério sul
E sei
Que o tempo vai escoar depressa demais até o próximo verão

Não me pergunte para onde os ventos irão soprar.
Só sei
Que irei com eles
Trilhando rumos pelo mundo, caindo das alturas em depressões profundas num mesmo instante em que flutuo, sem sentir qualquer emoção.

Não é muita ambição!
Nem pense que eu quero todos os amores do ocidente,
Apenas quero um que me oriente,
Ora, eu sou uma criatura normal!

Não, também não me sinto sem graça
Justo eu, que sempre fui dos mais calados
Agora falo pelos cotovelos, mesmo que acalentando meu silêncio;
Eu preciso muito das palavras.

Não adianta qualquer tipo de truque,
Almejo algo que realmente me satisfaça.
Me engano demais, isso é verdade
Engano o mundo inteiro, mas isso me cansa demais.

Quero um dia descer do palco
E me apresentar de verdade ao mundo, porque hoje sou como
A paisagem encoberta pela neblina, que me desorienta; tudo que há de se ver
É luz, pura luz... (talvez seja algum amor do ocidente)!

Espero que o dia se aproxime
E que o mundo gire,
Quero transcender hemisférios, pois
De todos os amores do ocidente, espero apenas um que me oriente.

Hei de andar pra frente,
Hei de conhecer muita gente e ser mais gente
Quero correr riscos e evitar o perigo
Ver minha casa desabar e não ficar sem abrigo.

Darei, então, um abraço no mundo
Mandarei lembranças
Pro seu tio querido do hemisfério norte
Morrerei um dia, e aí dirão que eu tive sorte.

O INÍCIO:

É chegado o fim da noite,
De mais uma noite,
Mas é só
Mais uma noite

É o fim da canção.
Mesmo assim, é uma bela canção.
Sei que não é a última vez
Que ouço a canção, enfim...

Sei que outras noites virão,
E nessas noites, outras canções
Eu hei de ouvir,
Com a melodia esperançosa do futuro.

E quem sabe, esses próprios versos que você lê agora, serão cantados
Para pessoas as quais eu ainda nem imagino que existam?
É bom lembrar, nunca sabemos
Sobre o amanhã!

Nada de dizer que o sonho acabou!
Isso pode até soar bem, é um clichê
Mas não faz meu estilo,
Certamente.

Há, ainda, muitos sonhos
A serem sonhados,
Há lugares inexplorados
No universo misterioso da vida de cada um de nós.

Existem pessoas que deverão
Ser personagens de nossas histórias,
Mas que só aparecem no meio
Da trama

Noites diferentes estão por vir,
Basta estar vivo pra ver,
Basta estar atento
E escutar os sinais.

Eu sei, preste atenção,
Dê ouvidos aos sons do amanhã
Siga as luzes que te guiam
Pela estrada que parece não ter fim.

Foi mais uma dança,
Mais uma garota.
O show está no final.

Numa dessas, pode morar
A surpresa.
O inesperado aparece
E aí, será o começo de tudo.

EXPLICAÇÃO:

Esse aqui eu já quis escrever
Há um tempo; eu já pensava
Sobre o que falar
Até que hoje eu resolvi me abrir,
Eu não gosto de me explicar

É que eu acho que isso dá muito trabalho,
E também não leva a nada
Cada um tem seu ponto de vista,
Por isso, querer se explicar, é uma furada

Eu sei que essa é uma frase de efeito:
“eu não gosto de me explicar”;
mas o que posso fazer?
...que os outros me entendam como quiserem.

Também aparecem, às vezes,
Algumas pessoas que insistem em me interpretar,
Eu não sou prova de português
E em mim não há respostas para se dar.

Querem crer no mistério que sou para desvendar o segredo
Querem ser espertos, mas eu vejo neles o medo.
Pra quê eu iria perder tempo,
Eu não tenho que te explicar!

Conviva comigo,
Não há perigo,
Eu sou o que pareço,
Não tenho nenhum lado
Avesso;
Às vezes me canso
E procuro a saída,
O caminho ideal,
A grande verdade é que,
Eu não gosto de me explicar!



Essa não é uma poesia atômica, não;
Mas ela atinge o núcleo.
Eles erguem uma parede entre nós dois
Mas não sabem de nada: a gente pode
Passar através delas!

Nadar debaixo d’água foi uma das experiências mais fascinantes
Da minha carreira de inútil,
Ver o sol do avesso e luz
Fazer curva é indescritível.

Só quem presta atenção
É que está sujeito a isso.
Se você é um camarada distraído, meu chapa,
Ah, então você tá deixando o mundo escapar
Entre os seus cinco dedos da mão,
Se você realmente tiver os cinco.

As estrelas, que têm cinco pontas só nos desenhos
Às vezes podem ser maiores que nosso sol.
Não sei porque, os poetas resolveram definir
As estrelas como se elas fossem
Um “souvenir” do amor, dos romances mais belos,
Como se elas fossem companheiras da lua...

Na verdade, uma estrela daquelas, ao vivo,
Pode ser um lugar insuportável,
Ou quente demais, ou frio demais,
Quem sabe?

Mas que enfeitam o céu, ah, isso eu concordo.
Só que eu acredito também que haja pessoas
Que discordem,
E isso é perfeitamente aceitável, ora.
Gosto é gosto, e não se discute.

Discutir sobre gosto é inútil,
Porque gosto não comporta discussão.
Não há regras pra se gostar,
E nem como se gostar,
Há apenas que se gostar.

Uma batedeira que bate as claras para o bolo
Nem sabe de qual sabor será aquele quitute:
chocolate, laranja, limão, ou apenas
Com gosto de bolo, mesmo.
Entretanto, ela bate o bolo,
A farinha, 200 g de manteiga, 100g açúcar, meia colher de essência de baunilha, uma lata de leite condensado...
E assim o mundo continua girando.
As coisas transcorrendo,
E o futuro chegando sem se aproximar.

Se o mundo parasse,
O tempo pararia, também?
(isso daria margem pra eu fazer outro texto!)
como seria o mundo parado? A gente ia ficar velho?
Ah... não me pergunte isso!

18.3.03

MÁSCARAS:

Quem é que nunca viu ou ouviu falar sobre um baile de máscaras? Quem nunca usou uma máscara na vida, ainda que em festas carnavalescas, ou outras em que o uso desse adereço fosse oportuno?
Todos usamos máscaras na vida. E não as usamos apenas em festas, ou acontecimentos extraordinários, pasmem! As máscaras são adornos presentes no nosso cotidiano, mas as vezes não notamos sua presença, por elas não se apresentarem em sua forma convencional, qual seja, aquele objeto que tapa o rosto da pessoa.
Agora imagino que você já entenda o que estou querendo dizer: sim, máscaras são os artifícios os quais visam, de certa forma, ludibriar o entendimento de terceiros a partir da imagem a qual emitimos. Melhor explicando: por máscaras, nesse texto, entenda-se a ação de transmitir uma falsa realidade a um semelhante, por qualquer meio ou forma. As máscaras visam, dentre outras finalidades, deturpar a impressão que os outros têm do “mascarado”.
As pessoas vivem num eterno carnaval. A vida é um imenso e constante carnaval, e o que muda é apenas o “samba-enredo”. Por exemplo, me lembro de uns dias atrás, quando eu estava de férias. Meu ritmo de vida era outro, completamente diferente do que eu enfrento agora, já que o ano letivo se iniciou. Mencionei esse exemplo para mostrar que tudo é o carnaval, e as mudanças, são as canções mais propícias a cada ocasião. Agora começo a falar sobre as máscaras.
Bastou-me retornar às aulas, ou seja, voltar a conviver com um contingente mais substancial de criaturas humanas, para que eu começasse a refletir novamente. Cada um é um teatro, embora cada um seja nada mais, nada menos, do que... cada um! Cada um se esconde, ou se protege, atrás da “capa”, justamente como o “Conde Drácula” na canção “Eu nasci há 10.000 anos atrás”, do genial Raul Seixas. Há pessoas que se escondem por trás de um sorriso. Há, portanto, sorrisos que podem ser máscaras. Há criaturas que se protegem pela educação, sendo polidas no jeito de se tratar, e esperando ganhar o mesmo dos outros; existem também criaturas que ostentam em suas “fachadas” jóias, roupas da moda, carrões do ano passado, óculos sem grau algum, e, enfim, há muitos tipos de pessoas, com sortidos tipos de máscaras. Até existem máscaras que podem ser positivas para o convívio humano. É o caso de feras sob pele humana que aprendem a controlar seus instintos, mesmo que por fim artificial. Também devem constar aqui, eu ia me esquecer, as pessoas que se escondem atrás de títulos, ora! (Como eu poderia deixá-los de fora)? É por isso que as vezes deixamos de ser nós mesmos, e isso torna o mundo muito chato! Há seres que não são “nada” sem seus títulos, escudos, emblemas, condecorações.
O carro do ano, o título de “melhor doutor do mundo” com formação na Capadócia, a perfumaria francesa, as roupas de grife, as divisas de comandante num uniforme, o dinheiro, a petulância idiota, são apenas “pseudo-barreiras” para que alguém se mostre impenetrável! O Dr. Fulano chega em casa cansado, e na casa dele falta água para tomar banho; a menina que tem roupas de grife fica suando e, à noite, quando chega em seu lar, tem de lavar essa roupa, porque o cheiro de seu “sovaco” é insuportável, e o efeito do perfume francês não perdura mais; o dinheiro dos ricos compra mais pão para o lanche à noite, e também um presunto de melhor qualidade, assim como a manteiga, mas não garante que a conversa à mesa será das mais agradáveis; as jóias enfeitam as balzaquianas belas que desfilam suas curvas pelas quinas dos cruzamentos das ruas, mas essas jóias não injetam educação nem carisma em suas veias tão frágeis quanto às minhas. Isso tudo acontece o tempo todo, e isso tudo são máscaras, embora haja uma infinidade de artifícios que seria inviável citar aqui, dada a extensão deste texto. Entretanto, nem todas as máscaras são de plástico, e nenhuma máscara tem um objetivo realmente importante para as nossas vidas.
E digo mais: se as máscaras existem, é para esconder dos outros alguma realidade a nosso próprio respeito. Daí, num pensamento lógico, concluímos que, se uma realidade deve ser escondida, é porque ela nos frustra, nos envergonha, ou então nos revela realmente comuns, exatamente como a maioria. Poucos são os comuns que se aceitam comuns. Esses comuns (que se aceitam comuns), são, por isso, a meu ver, especiais! São os desmascarados do apocalipse contemporâneo, que é o baile da vida.
Mas máscaras caem. Tudo o que é postiço, um dia cai. As dentaduras caem (só as mal colocadas); as máscaras de carnaval caem, na hora da ressaca; as aparências enganam. Na verdade, nós “somos apenas quem podemos ser”, nada além disso! Mas sonhos, nós podemos ter. É por aí que se pode tratar do assunto. As máscaras “encarnam” os sonhos, já cantados pelos proféticos “Engenheiros do Hawaii”, (na música intitulada “Somos quem podemos ser”).
Um dia provavelmente perceberemos o quão tolos fomos por ter escondido-nos dos outros, e por isso de nós mesmos. Deixaremos as máscaras caírem, se espatifarem no chão, se partindo em mil pedaços, para que outrem recolha os fragmentos, com o intuito de construir outra máscara. Chocaremos a todos num futuro, e nos chocaremos também, diante do espelho, por vermos a realidade, nua e crua. Iremos parar de “interpretar” a obra prima “O teatro de minha vida”, para nos tornar realmente protagonistas dos acontecimentos reais do desenrolar dos fatos que nos compõem, aqueles que se desdobram, nos proporcionando ser agentes de nossa realidade. Um dia seremos ainda enganados pelas máscaras dos nossos colegas do mundo, também mascarados. E também deles as máscaras cairão, cedo ou tarde, como num final de filme “hollywoodiano”, num ciclo que a vida reserva para todos. Enquanto isso, devemos fingir acreditar na festa, ou melhor, no baile de máscaras... Ou podemos tirá-las, se estivermos por demais cansados! Fiquem a vontade.
As máscaras apenas enganam. E enganar-se, é como pegar um desvio na estrada rumo à felicidade, que mora na rodovia do mundo real. Atalhos existem. Mas embora sejam convidativos, são falhos, e não proporcionam segurança alguma ao viajante. Tirar a própria máscara, é assistir a alvorada no paraíso! Então, basta pensar qual o melhor caminho... No fundo, todos nós sabemos. Por último, deixo uma indagação: para que se fantasiar de “Mickey”, se você é, na realidade, um “Pateta”! (Por favor, não fique “Pluto” comigo)!

EXISTENCIALISMO:

Tudo o que existe é! Sim, uso “é” como verbo intransitivo aqui, de forma proposital. “É”, por aqui, significa “existir”. Caímos então, numa redundância completamente prevista por mim, ao iniciar a escrever esse texto. Eu poderia explicar a afirmativa da seguinte maneira: “tudo o que nos cerca no mundo material e também no campo dos pensamentos, existe”. Ora, isso pode parecer óbvio, mas tudo o que parece claro e lógico pode ser um dogma. Pense um pouco, e repare que de lógico no mundo não há nada; o que acontece, é que aceitamos coisas que nos são demonstradas.
Para as crianças, por exemplo, nada é lógico. Por isso, elas nos perguntam tantas coisas, que parecem ter respostas simples. Quero afirmar aqui, que os pensamentos são seres. Não ousaria eu questionar se pensamentos são seres vivos ou não, embora isso para uma outra pessoa possa parecer ridículo. Não tenho a resposta para isso. Uma pedra é um ser, que nos conceitos que tenho a respeito do mundo, posso chamar de inanimado. Tudo o que existe, portanto, pode ser denominado de um “ser” qualquer. Há seres animados, seres inanimados, seres vivos, seres mortos, e seres vivos com caras de mortos, dentre uma infinidade tremenda de seres pelo universo. O próprio nada, que é tudo aquilo que preenche o que não sabemos explicar, é um ser por excelência. Raciocine: o nada existe, mesmo que ele seja composto pela ausência de qualquer coisa.
Não acredito nas baboseiras que me dizem a respeito da vida e seus acontecimentos. Detesto “esquematizar” o imprevisível. Não quero que me provem que a vida, os fatos, e que tudo o que me cerca é cíclico, não sou tão idiota assim. Se usarmos receitas para viver a vida, como usamo-nas para cozer um bolo, certamente morreremos de indigestão acirrada!
O tempo, cuja natureza (ignoro se o tempo é um ser!) não sei explicar, muda tudo. Ou então, é tudo que muda com o tempo, por coincidência. Mas isso não me interessa saber. Os seres mudam durante sua existência, e isso é fascinante. Por isso afirmei, no parágrafo anterior, que acreditar em ciclos é pura perda de tempo. Os seres são o desenrolar de suas próprias histórias, compostas por cada realidade, que forma o todo. Uma pedra que rola de uma montanha se transforma a cada queda. O início de uma trajetória descendente da pedra pode ser oriundo das forças de um vendaval, ou de um terremoto fortíssimo, por exemplo. Daí, conclui-se que houve outras transformações no mundo. Ou folhas caíram, ou o solo rachou com o tremor, etc.
Com os pensamentos, não é diferente. Os pensamentos podem até ocupar algum espaço físico, com matéria invisível, em outro plano, por exemplo. Sei que hoje, isso está fora do meu alcance de entendimento. Entretanto, sei que os pensamentos se transformam numa velocidade digamos “escalar”, diferente das modificações que percebemos no mundo físico, visível, ao qual hoje vivemos.
Nosso próprio planeta, que é apenas uma gota no oceano, se comparada ao resto do cosmos, também vive em constante mutação. O próprio tempo é um termômetro, que pelo simples fato de existir (ou pelo fato de acreditarmos que ele existe), modifica os seres. Pense: mesmo que nenhuma mudança ocorra em nossa existência, seja ela visual, ou de qualquer outra natureza, poderemos dizer que o tempo se passou. Com isso, aquela existência poderá ser chamada de mais velha, e isso é o suficiente para chamarmos de “modificação”.
Com isso, quero mostrar-lhes que modificação ocorre constantemente. Nada que possamos pensar é estático. Uma árvore centenária perde suas folhas no inverno, e gera novos frutos a cada determinada estação. A Terra está em incansável rotação, e o sol nos banha a cada dia. Uma montanha rochosa recebe a chuva de braços abertos, e estará sempre por lá, à espera do sol que virá depois. As estrelas vêm e vão a cada noite, que divide o tempo com o dia, que não é nada ciumento. Um poste ilumina, está sempre atento. Ele apenas está parando, mas sofre com o tempo, sente saudade dos carros que por ele passam, também.
Uma engrenagem não serve apenas para rodar. Ela é um elo que faz um “todo” funcionar bem, ela se gasta com o tempo, o trabalho. O vento transforma as coisas. Os fatos também transformam o pensamento. Os lugares transformam as pessoas. Os corpos das pessoas envelhecem com o tempo. Os pensamentos não envelhecem, eles ficam por aqui por mais tempo que nossos próprios corpos.
Agora, não venha me dizer que tudo isso são ciclos! Cada história é uma história singular. Cada ser tem uma realidade. Vivemos no desconhecido, e querer explicar tudo isso é um blefe. A vaidade não nos pode impedir de viver. A experiência é mais valiosa do que qualquer conhecimento. A palavra-chave é viver.

11.2.03

COTAS:


Assisti a uma reportagem na televisão que tratava de um tema um tanto quanto polêmico, que tem sido alvo de discussões intensas nos últimos anos no Brasil. A matéria tratava da questão de se criar cotas nas faculdades, para assegurar o ingresso de estudantes que se declarassem negros, pardos, etc. e também aqueles provenientes de escolas públicas, dando a eles chances compatíveis com as oportunidades que a vida os proporcionou, visto que são encarados como classes desfavorecidas em nossa sociedade. Houve algumas entrevistas. Não é surpresa que alguns entrevistados tenham se mostrado revoltados com tal iniciativa, não entendendo que o que se está fazendo nesses casos se chama “justiça”, que é nada mais nada menos do que “tratar com desigualdade aqueles que são desiguais”.
O assunto muito me interessou, visto que tal iniciativa é fato, e está posta em prática numa faculdade do Rio de Janeiro. Esse acontecimento é, de forma inegável, reflexo de um desequilíbrio social em nosso país. É notadamente visível que as classes de pessoas que estudaram em escolas públicas e os negros são, infelizmente, desfavorecidos econômica e socialmente no Brasil. O preconceito aqui não existe como em alguns outros países, como nos Estados Unidos, por exemplo, onde a discriminação é explícita e se discute o assunto abertamente. Entretanto, basta dar um passeio pelas cidades brasileiras, e ver que os negros, entre outras classes, (que têm a maioria de sua população composta de indivíduos pobres), são as pessoas que ocupam os empregos de menor remuneração, ou aqueles que requerem maior esforço físico, menor exigência de qualificação técnica e acadêmica, etc. Não é difícil perceber que esta condição foi imposta a essas classes de pessoas, que estão “amarradas” a um ciclo que pouco lhes dá oportunidades de mudar. O racismo, no Brasil, está encrustado nos hábitos das pessoas, “escrito na testa” das autoridades, e é praticado em toda “esquina”. Isso é grave! Os negros e outras classes que sofrem discriminações têm menores oportunidades, portanto dificilmente podem ter acesso a boas escolas básicas (que na maioria das vezes são particulares), e isso lhes faz “ver por terra” as oportunidades de ingressar numa faculdade, com o intuito de galgar uma trajetória ascendente e bem sucedida na vida. Como num filme que se repete, os filhos dessas pessoas, por sua vez, nascem, crescem, e acabam passando pelos mesmos problemas. Isso ocorre há tempos por aqui!
Agora pense: essa situação social não é fruto do racismo? Pois eu digo que é. E é um racismo cruel, que não têm sido expressado em palavras, mas o que é pior, em atitudes, através da imposicão de barreiras sociais. A criação de cotas, então, é uma solução imediatista, mas extremamente necessária à conjuntura atual da sociedade brasileira. Na reportagem na televisão, e também em conversas nas ruas, já ouvi várias pessoas dizendo: “mas essa idéia de criar cotas para os menos favorecidos já demonstra um preconceito com essas pessoas”. Não é verdade que essa ação demonstra “preconceito”; mas ela “reconhece” que o preconceito existe! E ele existe, mesmo! Eu mencionei que essa ação é imediatista, porque, naturalmente essas cotas tendem a sumir, com o passar do tempo. Pense bem: se as pessoas que antes não tinham acesso às faculdades puderem exercer realmente seus direitos à educação, em breve se tornarão profissionais bem sucedidos, com melhores condições sócio-econômicas. Daí, surgirão descendentes dessas pessoas; estes últimos, por sua vez, terão condições melhores que as de seus antecessores, e conquistarão seu espaço com maior facilidade e apoio da sociedade, num futuro não muito longínqüo. A partir desse pensamento, vê-se que a tendência, com essa “polêmica” medida das cotas, é criar uma sociedade igualitária, sem disputas tolas fundamentadas em questões imbecis, uma sociedade que proporcione a seus componentes, dignidade em ser cidadãos, além de chances iguais ao se começar a busca da conquista de qualquer carreira profissional.
Também tive a oportunidade de discutir com várias pessoas, entre elas a Cecília, o André, o Léo e o meu pai também, que têm opiniões divergentes. Uns, mesmo ao se deparar com o fato do preconceito, dizem que os que não se declaram negros e os alunos que vieram das escolas particulares estão sendo prejudicados nesses acontecimentos; outros, pensam o contrário. Matematicamente, é claro que essas pessoas têm suas vagas diminuídas, e isso torna seu ingresso nas faculdades cada vez mais difícil. Mas essa dificuldade não é nada, se comparada à condenação brutal imposta àqueles menos afortunados, excluídos não por regulamento algum, mas sim pela cor de sua pele, ou pela procedência da escola à qual pertenceram no passado. Ainda assim, o atraso social oriundo desse preconceito praticado em nossa sociedade levará anos para ser um problema resolvido, pois estamos engatinhando na evolução rumo à solução do problema, caso tudo dê certo.
Concluindo, penso que concordar com a implantação desse método é ter consciência de que os preconceitos existem, mas ao mesmo tempo, devem ser combatidos. A utilização dessas cotas pelos candidatos não é obrigatória, portanto não configura nenhuma imposição de aceitação oficializada de “preconceito”, além de continuar respeitando os outros candidatos. Entendo que estão começando a “tirar o atraso social” que se arrastou sem fôlego, perdurando até os dias atuais... e que não agüenta mais esperar por “novos ares”!

Esta obra também está disponível em vinil, k-7 e dvd. Som Livre! Ahahahaha!

9.2.03

Medo de altura:

Aquela ocasião seria apenas mais um dia comum de minha vida, caso aquele senhor, de aparência humilde e uma voz tão fraca que o fazia difícil de se entender, não tivesse me feito uma pergunta. Uma indagação que veio rápido como uma flecha em minha direção, mas cuja resposta não se efetivará com tal celeridade, caso eu realmente tenha uma reposta para aquele ancião o qual nem sei o nome.
Tudo aconteceu numa praça, no centro da cidade, quando eu, desprovido de qualquer compromisso àquele momento, perambulava livremente, sem destino pelos arredores, fora interceptado pelo tal senhor, que me perguntou, para “puxar papo”, em que lugar eu vivo. Bem, a conversa terminou, o velhinho se foi, e cá estou eu, pensando onde eu “vivo”. Não dei uma resposta exata para ele, apenas disse que eu “vivo”, sem saber realmente onde!
Meus pensamentos começaram a concatenar idéias, e agora sim, eu teria respostas melhores para dar àquela criatura. Ora, eu vivo num lugar lá no “auto”, embora eu resida num vale. Sim, eu vivo no “auto” da minha ignorância, e também da minha sapiência. Vivo mergulhado mais no “auto”, do que em qualquer outro lugar. Vez por outra, eu caio no “auto”, e por ali fico durante muito tempo. Vivo no meu “auto-mundo”, que é “auto-suficiente”, e que não precisa dos outros para existir. Teço minhas teias (uma homenagem ao Ronaldo) para prender as moscas do mundo; desenho minha realidade do jeito que melhor me convém, e acredito nela; desafio leis de qualquer natureza, invento realidades absolutas e ultrapasso a barreira do aceitável. Torno-me, para algumas coisas, incansável; e, para outras, esgotado. Enfim, vivo a flutuar no mundo da minha própria imaginação; por isso vivo nas “profundezas da autura” geral. Existo submerso na imensidão do meu próprio pensamento, que perfaz meu mundo particular.
Esse “auto”, (o meu próprio mundo), não me impede de visitar o mundo coletivo de vez em quando. Mas... quem não vive no auto? (e chega de aspas para destacar o auto)! Só quem é louco consegue viver no mundo de todos. Porque o mundo de todos é formado por cada mundo individual, e isso eu já havia escrito em um outro texto, noutra situação. O auto-mundo se refere à individualidade de cada um: cada segundo vivido dentro de uma carcaça de carne e osso individual, cada espirro e cada alegria vivenciados por cada um de nós. Lá no auto, só eu sei como é ser assim, e só você sabe como é ser assado.
O velhinho da praça agora deve imaginar onde eu possa viver, ou então já esqueceu do assunto. Vivo só, como todos vivem. É por isso que somos todos uma grande convivência de “solidões” tão solitárias em busca de harmonia, somos auto-suficientes apenas para nós mesmos, e justamente por isso, precisamos dos outros.
É aí que esse “autismo” encontra seus “companheiros”: no convívio! Observamos uns, os “mundos” dos outros. Assim como o Alan observa o meu autismo, como o Giovanni repara no Ronaldo, e o João Paulo observa o meu autismo, também. Observamos todos a onipotência frágil, porém solene de um professor, que sem a “platéia” de alunos ávidos pela transmissão de conhecimentos, se sentiria um frustrado. Imaginem que o professor essencialmente seria o mesmo, (com os mesmos conhecimentos e a mesma habilidade), sem os alunos. Mas, praticamente, “depende” dos alunos para ser realmente um professor. Nunca vi professor fazer carreira dando aulas ao vento! Na realidade, todo mundo é só mais um autista na multidão, e cada um vive num lugar mais “auto” que o outro. Até as convivências entre nós humanos são de caráter extremamente egoístas, porque, cedo ou tarde, esperamos, invariavelmente, reciprocidade em qualquer ato. Se você disser que não, eu digo que você está mentindo, ou é um “falso frio”.
Tanto somos moradores do auto, que só percebemos o mundo a partir de nós mesmos, até onde eu conheço a realidade. Imagine se você acordasse amanhã no corpo da sua professora, e depois de amanhã você fosse o papa João Paulo, o ditador Fidel Castro, ou o Sadam Hussein? Aí sim, poderia ver o mundo com diversos olhos! Poderia fazer dos versos de uma canção “eu sou de ninguém/eu sou de todo mundo/e todo mundo é meu também”, versos seus, e conseqüentemente, versos do resto do mundo. Mas não é bem por aí. Nossas próprias limitações físicas nos levam à solidão. O autistas do mundo coletivo e solidário existem de verdade.
A própria individualidade, expressa através de características inconfudíveis, físicas, psíquicas, documentais, etc., nos faz, por natureza, autistas. Somos, portanto, moradores lá do “auto”, mesmo sabendo que conviver “é uma arte”. Talvez por isso conviver seja complicado, porque naturalmente sejamos seres anti-sociais. Nos vencemos todos os dias, para quebrar essa inamovibilidade ideológica que insiste em nos tornar ilhas inertes e incomunicáveis, embora por vezes nos incomode o fato de sermos falsas praias à disposição dos turistas que pela costa passeiam.
Minha mente continua no “auto” daquele morro, e meu corpo, de certa forma, também está no “auto”, mesmo estando com os pés no chão. Todos estão voando numa “autura” diferente, para não se encontrarem. O fato de os humanos compartilharem alguns momentos juntos, é pura coincidência do destino, pois o destino também vive no “alto”, muito “auto”! Somos nossos próprios destinos, e de vez em quando, nos cruzamos por aí!